A vida não é como um comercial de margarina. Cada novo ciclo na rotina de um casal é um prato cheio para uma crise, e uma boa conversa nem sempre é capaz de solucionar todos os conflitos. Por isso, a ajuda especializada pode ser a solução para melhorar a relação – ou terminá-la de vez.
O argumento é simples: compreender o outro isento de julgamentos e expectativas é algo complexo. Por isso, a análise e intervenção de um terapeuta de casal pode evitar que você e seu par despejem reclamações e frustrações um sobre o outro. Quando dois mundos diferentes encontram-se em um relacionamento, bagagens culturais, genéticas, mentais, orgânicas, espirituais e financeiras entram em colisão direta. Amaciar esse impacto depende de muita maturidade.
Embora a principal função do terapeuta seja facilitar a comunicação entre o casal, é comum que problemas de dinheiro, traição, criação de filhos e descontentamento sexual levem muita gente a buscar a terapia. E a maioria deixa para pedir ajuda quando a bomba está prestes a estourar. Quem afirma é a terapeuta de família e casal Clarissa Trindade Sant´Anna.
– São poucos que procuram em momento de prevenção, ou quando está iniciando o conflito – explica ela.
A diminuição da admiração e sobretudo do desejo sexual foram os motivos que levaram a secretária-executiva de 59 anos que pediu para não ser identificada a querer dar fim a um casamento de 24 anos. Na época com 45, ela se sentia realizada como profissional, mãe e dona de casa, mas estava longe de se sentir feliz na cama. Decidida pela separação, começou a fazer terapia para tentar tornar menos amargo o sabor do fim.
– Quando ele se deu conta de que não tinha mais jeito, que eu já estava certa do que queria, parou de ir nas consultas – comenta.
O episódio a fez perceber que sua iniciativa pode ter sido tardia:
– Tem de buscar ajuda quando o sentimento começa a mudar – afirma.
No caso dos dentistas Aline, 27, e Rafael Altmann, 32, a história foi outra. Eles começaram a terapia individualmente, cada um por causa própria, até que seus psicólogos recomendaram que consultassem juntos. Iniciaram o tratamento em julho passado. Para a Aline, foi natural falar sobre o relacionamento, pois ela já tinha vínculo com a psicóloga.
Rafael também não teve muito receio: sendo da área da saúde, entendia que o psicólogo era um profissional capaz de fazer diagnósticos e trazer soluções pontuais.
Comunicação mais eficiente após seis meses
De cara, esse entendimento facilitou o trabalho dos terapeutas (o casal é atendido por uma dupla de psicólogos, um homem e uma mulher), e instaurou um clima de descontração, fazendo cada sessão parecer um bate-papo entre amigos. Seis meses de sessões conjuntas já fizeram a dupla acreditar que sua comunicação está mais eficiente. Ela está falando mais sobre as situações do cotidiano que antes guardava para si. Ele está procurando não ser tão ríspido em situações desagradáveis.
Questionados sobre a dica que dariam para quem pensa em fazer terapia de casal, eles brincam com a situação:
– É bom saber se o psicólogo atende pelo convênio e o preço da consulta (risos). E é preciso pensar sobre as queixas que serão discutidas – complementam.
Quando eles puxam a frente
A mudança da posição da mulher no mercado de trabalho influenciou para que se modificassem muito as relações familiares e amorosas. Segundo Helena Centeno Hintz, psicóloga do Domus – Centro Terapia de Casal e Família, o fato de a mulher trabalhar fora e ser, muitas vezes, a provedora do lar, deixou os homens mais comprometidos na divisão das tarefas domésticas. Isso exigiu deles a tomada de atitude e novas posições dentro da família.
– Na terapia, não se retoma a vida que se tinha no início do casamento, por exemplo. Mas é possível encontrar novas formas de se relacionar. Pode-se mudar os objetivos, diminuir as incomodações – afirma Helena.
Foi assim que o casal Caciano Marques, 31, e Daiana Petroli, 29, conseguiu reencontrar o equilíbrio que buscava: eles adotaram novas estratégias para resolver velhos problemas. Estavam vendo a relação desmoronar por falta de diálogo. E não era por menos: depois de ter a primeira filha, Daiana entrou em uma crise depressiva da qual não conseguia sair. Só tinha vontade de dormir, não conversava, estava sem iniciativa. Arrastada pelo marido até o consultório das terapeutas Patrícia Vidal e Clarissa Carvalho, ela aceitou na marra participar das sessões de terapia. Era isso ou correr o risco de perder o amor de sua vida.
– Eu queria ficar com ele, queria salvar nosso casamento, mas estava totalmente sem condições de cuidar de mim, quem dirá dele.
Conforme o tempo foi passando, Daiana foi se abrindo para o tratamento. Aceitou fazer terapia individual também, passou a administrar as questões que atrapalhavam sua autoestima e, por consequência, foi recuperando a alegria. No andamento, conseguiu ajustar aspectos do comportamento dele que também lhe desagradavam. Os primeiros passos, as terapeutas fazem questão de relembrar:
– Ela trocou as lágrimas por sorrisos, está se arrumando mais, está se reorganizando. Esse ano, eles tiraram as primeiras férias juntos e trocaram alianças – dizem, orgulhosas, Clarissa e Daiana.
HORA DE AJUDA
Mudanças na estrutura familiar podem abalar as relações. A chegada do primeiro filho, por exemplo, costuma impactar a vida a dois. Neste período, muitos casais deixam de lado a relação em nome da prole. A dica é procurar ajuda aos primeiros sinais de conflito.
SEXO RUIM OU INEXISTENTE
A falta de satisfação sexual com o parceiro(a) é uma das queixas mais recorrentes na terapia de casal. Muitas vezes, essa é apenas a ponta do iceberg. A perda de intimidade ou a diminuição do desejo podem ser armadilhas pregadas pela rotina e pela acomodação.
PROBLEMAS FINANCEIROS
É comum que falta de dinheiro, dívidas, desemprego ou insatisfação profissional respinguem nos relacionamentos. Pare para pensar se a reorganização emocional não ajudará a colocar as finanças também em dia.
DIVÓRCIO
Separação representa perda, e geralmente é dolorida para um dos lados, pelo menos. Fazer terapia pode tornar menos traumático esse período e evitar desentendimentos.
TRAIÇÃO
Conversas e troca de mensagens por redes sociais e aplicativos de comunicação muitas vezes abalam a confiança e comprometem a cumplicidade de um casal. Nem sempre a terapia ajuda a perdoar, mas a proposta é fazer com que os casais vivam menos em luta e mais realizados com as suas escolhas.
Fonte: Helena Centeno Hintz, psicóloga do Domus – Centro Terapia de Casal e Família, e Clarissa Trindade Sant´Anna, Patrícia Vidal e Clarissa Carvalho, terapeutas de família e casal
HISTÓRIAS DE CINEMA
O que assistir sobre terapia de casal
Kay (Meryl Streep) e Arnold Soames (Tommy Lee Jones) estão casados há 30 anos. O relacionamento entre eles caiu na rotina e há tempos não tem algum tipo de romantismo. Querendo mudar a situação, Kay agenda para ambos um fim de semana de aconselhamento com o dr. Feld (Steve Carell), que passa a lhes dar conselhos sobre como reavivar a chama da paixão.
Após 15 anos o casamento de Ben (Bruce Willis) e Katie Jordan (Michelle Pfeiffer) entra em crise. Assim, eles se separam na mesma época em que seus filhos Josh (Jake Sandvig), de 12 anos, e Erin (Colleen Rennison), de 10, estão em um acampamento de verão. Separados, cada um tenta recomeçar sua vida em cantos neutros, aproveitando o período para avaliar e refletir sobre a vida que tiveram juntos, com seus altos e baixos, e tentam concluir se ainda há algo de sólido nesta relação que permita uma reaproximação.
Jane e John Smith, interpretados por Brad Pitt e Angelina Jolie, contam detalhes explosivos de sua vida. Vítimas de amor à primeira vista, os dois vivem numa casa cinematográfica. Mas a paixão já não é mais a mesma _ situação que dura até serem contratados para uma mesma missão secreta que poderá reacender a chama dessa paixão.
Websérie Porta dos Fundos _ Sessão de Terapia
O casal de atores e roteiristas Gregório Duvivier e Clarisse Falcão participa de uma sessão de terapia para falar sobre problemas conjugais. Com humor e sarcasmo, eles remetem a questões da história para explicar seus problemas de relacionamento.